UNIVERSIDADE
DE BRASILIA
INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS
DISCIPLINA: POÉTICAS TEATRAIS
DOCENTE: MARCUS MOTA
INSTITUTO DE ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS
DISCIPLINA: POÉTICAS TEATRAIS
DOCENTE: MARCUS MOTA
Lúcia
Priscila Mangueira Tavares 17/0026019
Victor
Hugo Corrêa Silveira 17/006745
Renan
Leite Souza 17/002648
Mina
Petrova 17/0074137
GROTOWSKI
BRASILIA
– DF
2017
INTRODUÇÃO
Grotowski foi um grande diretor
polonês que inovou o teatro no século XX. A principal vertente do seu trabalho
se baseava em um teatro pobre, onde a palavra podre não tinha relação a falta
de recursos financeiros, mas sim a cenário limpo onde o único objeto, podemos
dizer assim, em cena era o (a) ator/atriz e seu corpo, dando-lhe assim a
possibilidade de conseguir um domínio maior sobre o mesmo.
A
Arte como Representação ou Teatro de Reprodução, como ele mesmo denominava,
marcou o início de sua carreira, onde foram realizados trabalhos de encenação
com o grupo Teatr Laboratorium que
eram apresentações voltadas para o público. Essa primeira fase foi entre o
período de 1957 a 1969. Após essa fase ele vira sua pesquisa ao aprofundamento
das questões ligadas diretamente ao processo de autoconhecimento do ator, entre
os anos de 1969-1978, que pode ser visto como uma superação do teatro de
representação denominado de “Parateatro”. (ALVES B. C., P. 2015)
O “Teatro das Fontes” é uma fase
onde podemos observar propostas que irão marcar os momentos finais do seu
trabalho como o “Drama Objetivo” e a “Arte como Veículo”, no período de
1976-1982. Os espetáculos públicos não são mais realizados, seu trabalho passa
a ser realizado com um grupo de artistas ligados a ritos sagrados, oriundo de
várias culturas como: África, Haiti, Índia, etc. (ALVES B. C., P. 2015)
TEATRO
POBRE X TEATRO RICO
Para
Jerzy Grotowski, o fundamental em cena era o trabalho do ator com a plateia. Figurinos,
cenários e iluminação não eram essenciais e foi daí que surgiu o termo
"teatro pobre", onde não há relação alguma a falta de recursos
financeiros. Para ele o essencial em cena era o (a) ator/atriz e seu ofício. O
trabalho do Grotowski é mais voltado ao corpo do artista, e com isso ele sempre
desenvolvia exercícios para que eles tivessem um controle maior sobre o mesmo, não
precisando assim de recursos como iluminação, sonoplastia e figurino para
emergir e dar lugar à verdadeira teatralidade. Dessa forma ao invés de criar
uma estrutura para um personagem, o ator passa a se incumbir e descobrir-se
através dele. O ator é o centro de tudo e, para que isso ocorra, o seu corpo é
submetido a um treinamento rigoroso.
Para
preencher o vazio que tinha em cena, o artista precisava ser bastante intenso
em sua atuação e tinha que tentar quebrar ao máximo a relação ator/plateia. “O
espetáculo é construído em cima do princípio da estrita autarcia. A norma geral
é a seguinte: é proibido introduzir na representação o que quer que seja que
não esteja nela desde o início. Um certo número de pessoas e de objetos
reunidos no teatro. Eles devem bastar para realizar qualquer situação da
representação. Eles criam a plástica, o som, o tempo e o espaço” (GROTOWSKI
apud PAVIS, 2008, p. 393).
O
corpo do ator é o seu próprio material e por isso ele deve ser treinado para
obedecer, ser flexível e responder aos impulsos psíquicos automaticamente e com
isso não oferecer resistência alguma. Disciplina e espontaneidade são aspectos
básicos do trabalho do artista.
Para
ele o (a) ator/atriz antes de reagir com a voz, o mesmo tem que reagir primeiro
com o corpo e deve-se pensar com ele todo através das ações. “O ator deve
decifrar todos os problemas de seu próprio organismo que lhe sejam acessíveis.
Deve saber qual o meio de dirigir o ar, conduzindo o som para determinada parte
de seu corpo, produzindo sonoridades que parecerão ter sido ampliadas por
diferentes tipos de ressoadores. ” (GROTOWSKI)
THE BODY OF THE ACTOR IN THE WORK OF GROTOWSKI
Grotowski believed that the actor’s main instrument is
his own body. An instrument that through methodical training and self-control
permits the actor to remove his everyday mask and purely express himself.
Grotowski’s “holy actor’’ should be prepared for a
self-sacrifice and should be able to “overstep every conceivable limit” by
eliminating everything outside his focus.
He had developed a system of various training
exercises influenced by eastern techniques and by some of the most notable
figures in Theatre. According to Grotowski the actor should possess the
so-called technique of trance, which eliminates using a predetermined set of
skills and tricks and allows him to integrate his psychic and bodily powers and
express his intimacy from the very depth of his soul.
AS
FASES DE GROTOWSKI
Antes de iniciar a leitura sobre as
fases do autor deve-se ter alguns preceitos em mente sobre o precursor do
teatro ritualístico. Conhecimento, objetividade, versatilidade e obstinação são
marcas reconhecidas exaustivamente por estudiosos de Grotowski, seus estudos
influenciaram artistas pesquisadores como Eugenio Barba. A obra de Jerzy
Grotowski foi publicada durante toda sua carreira, entretanto a grande parte de
suas edições publicadas só estavam disponíveis em polonês, a obra com maior reconhecimento
foi ''Em Busca de um Teatro Pobre''. Apesar de sua meticulosidade o autor
sempre desprendia-se de fórmulas ou regras, para assim encontrar sempre novas
perspectivas, estudos, formas e concepções. A objetividade e clareza verbal em
sua construção teórica não precedia necessariamente a prática de seus
estudos.
A totalidade em um espetáculo para J.
Grotowski deve seguir determinadas formas, as quais devem estar dispostas em
coerência e logíca da forma, tudo deve ser justificado na situação presente. A
teatralidade separa-se da vida no momento em que abandona a literalidade para compreender novas formas e
sentidos, deixando de lado o real sentido da vida, em busca de algo artificial
distinguindo assim da vida no sentido literal. O diretor Grotowski em sua obra
despreza o teatro burguês, na avaliação de não considera-lo teatro, pelo motivo
de não seguir as formas de teatralidade definidas pelo próprio, considerando-o
um grande erro por não haver uma construção ou forma.
A primeira fase de seu trabalho, que
teve início em 1956, inicia-se com seus estudos em academias, esse período é
conhecido como teatro de espetáculos. A obra cênica de J. Grotowski é resumida
em ''Brincar de Shiva'', de acordo com o próprio em sua tese para obtenção do
diploma em direção. O termo usado contempla o significado de trazer toda
realidade e ao mesmo tempo ressignificar toda a ação em uma grande totalidade,
por meio de uma brincadeira ritualística. Diferente dos rituais religiosos, os
quais tem objetivo espiritual, a brincadeira ritualística tem como função
trazer uma composição sincera e teatral, aonde o corpo do ator encaixa-se no
infantilismo consciente e seu figurino e acessórios como instrumentos de uma
brincadeira. Está ação nada passa de algo artificial seguindo regras
estipuladas pela direção, para assim alcançar determinada situação e permitir a
convencionalidade aos espectadores. A criação do '' Teatro das 13 filas '' em 1959,
tem haver com a montagem de dramas em versos de Adam Mickiewicz e diversos
outros autores Sakuntala e Forefathers'eve. Grotowski fez a exibição baseada na
obra ''Os Antepassados'‘, a qual trata-se de uma história política e nacional.
O foco do espetáculo era uma série de estudos dirigidos e ligado ao teor dos
versos e seus ritos.
O segundo momento inicia-se após uma
viagem ao oriente. Grotowski decide se afastar da montagem de peças e inicia o
período apelidado de ''Teatro Participativo'', a partir deste momento J.
Grotowski dedica-se em estudar campos desconhecidos na área cênica. Os estudos
eram focados em formas de rituais e performances, o próprio começou diversas
reuniões sobre os assuntos no objetivo de acrescentar os seus estudos no âmbito
de intercomunicação e inovar suas percepções. A partir de então o diretor só abre
as portas do seu grupo teatral ao público para experimentos com foco em suas
pesquisas, e com o decorrer do tempo é permitida a entrada de estudiosos para
acompanhar o processo ali desempenhado. Os experimentos realizados por J.
Grotowski demoravam dias, semanas e meses e se desprendia de qualquer forma de
rótulo, como treinamento de ator, rituais, terapias e afins.
A busca de características religiosas
passadas, e todo o conjunto e absorção de rituais caracterizam o terceiro
período chamado de '' Teatro das Origens'' que começa no ano de 1976. Aonde
Grotowski se dedica estudo do homem e suas técnicas corporais e outras. O
estudo começa a mostrar ações pertencentes a culturas religiosas orientais e
africanas, as quais trouxeram novas brechas para estudos da técnica do transe,
meditações, orações e outros. Em meios aos estudos no início dos anos 80 se
introduz nos América do Norte em de dar a realização a um projeto nomeado
''Objective Drama'', dando início a quarta fase considerada como transição. Grotowski
trabalhava com diversos grupos com auxílio de estudiosos de várias regiões do
mundo em conjunto com alunos da universidade de artes do país em busca de
habilidades performáticas específicas de cada grupo étnico, pertencente naquele
ambiente. Nesses processos em grupo o diretor encontrou um de seus grandes
colaboradores, chamado Thomas Richards o qual sempre esteve presente em seus
laboratórios e foi nomeado o ''herdeiro espiritual'' sucessor de suas
pesquisas.
O quinto e último período das fases
de Grotowski, é a parte final de sua pesquisa, aonde ele conta com o suporte de
seu assistente Thomas R.. Esse momento é chamado pelos estudiosos de ''Artes
Rituais'' ou ''A arte como veículo'', a etapa final dos estudos passa-se no
interior da Europa, e neste local inicia-se o ''Workcenter of Jerzy
Grotowski'', o processo tem como foco atingir o ator, o qual é extraído o
produto para a composição da totalidade. O trabalho utiliza-se de ações
presentes em rituais para obter determinado estado de transe para assim
transformar a energia. A progressão do estudo leva os atuantes a terem maior
noção de seus corpos e verificar o limite dos mesmos, tudo visando uma evolução
para alcançar a ''verticalidade'' do ser proposto por Grotowski.
TEATRO/
MITO/ RITUAL
Grotowski desde o início teve seu
trabalho rumo a um teatro ritual. Ele acreditava que, já que o teatro criou
vida a partir dos ritos primitivos, ao retornar ao ritual seria possível
reencontrar o cerimonial de participação, de forma viva, direta, imediata,
liberal e autêntica de uma reciprocidade peculiar dos que participam de ambas
as partes. (FURLANETE & OLIVEIRA, 2014)
Na
década de 1970 Grotowski resolve não produzir mais espetáculos e seu trabalho
fica voltado para o “Parateato”. Fase sua em que não há espectadores e os
exercícios básicos de treinamentos servem como base da relação dos
participantes entre si e o espaço. (FURLANETE & OLIVEIRA, 2014)
O “trabalho do ator sobre si mesmo”.
Onde há processo de autoconhecimento em que o ator deve compreender suas
limitações, com o objetivo de eliminar os bloqueios, as resistências, os
hábitos condicionados que impedem a organicidade da ação físico-vocal, essa foi
uma vertente abordada em todas as fases de Grotowski (MARTINS & CAMPOS,
2014)
Ainda segundo Martins e Campos
(2014), Grotowski continua com o trabalho de autoconhecimento, na fase da “Arte
como veículo”, mas não mais na perspectiva da “arte como apresentação” e suas
relações com espectadores, e sim no foco do ator como atuante da ação. Thomas
Richards, que foi aluno, trabalhou com Grotowski e hoje é diretor de pesquisas
em Artes Cênicas no Workcenter of Jerzy
Grotwski e Thomas Richards, fala que as pessoas diretamente relacionadas na
arte como veículos não são ‘atores’ e sim ‘atuantes’ em que seu ponto de
referência é o itinerário na verticalidade e não mais o espectador.
Nessa fase, os rituais são
utilizados como meio de construção e elaboração de um trabalho voltado a
organicidade das ações, em que os atuantes não buscam um trabalho voltado para
um espectador, mas sim de um estado de obediência e de desafiar o corpo.
Grotowski usa a metáfora da escada
vertical e fala que os “cantos rituais da tradição antiga dão um suporte para a
construção dos degraus dessa escada vertical”, onde a verticalidade sairia de
ponto grosseiro ou cotidiano, para um mais sutil, havendo uma transformação de
energia. (MARTINS & CAMPOS, 2014)
Richards em um de seus relatos fala
sobre o que seria o processo de construção da “Arte como Veículo”. Uma “
investigação sobre a forma, de como as artes do espetáculo podem ser uma
ferramenta de transformação da percepção do artista e de sua presença, um meio
de despertar aspectos sutis da experiência através do trabalho com os cantos
vibratórios. ” (MARTINS & CAMPOS, 2014)
A
montagem de um ritual difere da de um espetáculo, pois o espetáculo é moldado
pensando em um espectador, já no ritual é moldada para a percepção de quem
participa dele, existindo uma relação de ator/ator. Furlanete e Oliveira
(2014), falam que os elementos presentes no rito não foram montados para um
espectador passivo e que todos são ativos. A busca de aproximar a arte teatral
ao ritual, tenta encontrar formas de quebrar, amenizar a separação que existe
entre os que atuam e os que assistem.
O canto de tradição era uma prática
onde o ato de cantar buscava a ressonância do canto dentro do corpo, uma forma
de se conectar com algo profundo dentro de si, onde se entrelaçavam memórias
pessoais e memória ancestral. Os cantos rituais são tradições que passam de voz
em voz, de corpo em corpo dos ancestrais até os atuais. Assim, segundo Martins
e Campos (2014), os cantos rituais não é uma volta ao passado, mas sim uma teia
“interconexa atemporal” que nos liga aos ancestrais e as gerações futuras.
Os cantos ritualísticos permitiam,
com suas melodias, ritmos e palavras, que o atuante acessasse os degraus da
consciência. Eles deveriam descobrir, a partir da percepção interna do som
ressoando no corpo, os mistérios escondidos nas canções, buscando assim dentro
de si o mesmo caminho de se mover em cada canção. As canções são repetidas e
repetidas, com bastante precisão para que assim a mesma abra outros estados de
percepção e dessa forma a consciência da presença do corpo, no instante
presente da ação vocal, seja ampliada. (MARTINS & CAMPOS, 2014)
A movimentação que os atuantes descobriam eram
como caminhos que podiam ser repetidos, mas que não era algo comum nem
mecânico, mas sim algo natural e sutil. Que havia uma mudança de energia,
possibilitada pelas canções ritualísticas ao acessar a consciência do atuante
que o ligava aos ancestrais, mas não de forma que o levasse para o passado e
sim como algo capaz de conectar presente, passado e futuro.
BIBLIOGRAFIA
GROTOWSKI,
J. Em Busca de Um Teatro Pobre. Rio de Janeiro: Editora Civilização
Brasileira.(Tradução: Aldomar Conrado). 2013.
GROTOWSKI,
J. O Teatro Laboratório de Jerzy Grotowski 1959 - 1969. São Paulo: Editora
Perspectiva. (Tradução: Berenice Raulino), 2007.
BROOK,
P. Avec Grotowski. Brasília: Editora Dulcina. (Tradução: Raphael Abdrade e
Celina Sodré), 2011.
ALVES
BARBOSA COELHO, P. O Corpo do Ator no Trabalho de Grotowski. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo. 2015.
MARTINS
TRASEL, J.; CAMPO, G. Cantos rituais de tradição na prática do performe: Jerzy
Grotowski, Maud Robart e Thomas Richardas. Santa Catarina: Pesquisa de
Pós-Doutorado, UFSC. 2014.
FURLANETE,
S. P.; OLIVEIRA, J. P. B. A Criação Artística A Partir Do Sagrado E Encontro Humano
Em Jerzy Grotowski E Peter Brook. Teatro: Criação e Construção de Conhecimento,
[S.l.], v. 2, n. 2, out. 2014. ISSN 2357-710X. Disponível em:
<https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/teatro3c/article/view/1095>.
Acesso em: 17 abr. 2017.
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